Nesta terça-feira, Yulo Castro, presidente estadual do Tucanafro e membro das executivas nacional do seguimento, bem como membro da executiva estadual do PSDB, anunciou sua intenção de se desfiliar do partido por meio de uma carta amplamente divulgada. Embora o processo formal ainda não tenha sido concluído, o gesto já repercute como um sinal de alerta para o PSDB capixaba e para o cenário político do estado. Em sua carta, Yulo critica a falta de transparência e diálogo dentro da legenda, expondo fissuras que vão além de meras divergências pontuais e revelam desafios estruturais que ameaçam a democracia partidária.

Figura política reconhecida no Espírito Santo, especialmente na Serra e no interior do estado, Yulo Castro construiu sua trajetória em estreito contato com comunidades e lideranças locais. Durante as eleições de 2024, atuou como coordenador da campanha de Rafael Estrela do Mar, vereador eleito pelo PSDB com expressivos 4.409 votos. No entanto, o processo eleitoral foi marcado por tensões internas, principalmente devido à atuação do deputado Vandinho Leite, ex-chefe de Yulo, que se posicionou contra os interesses de Estrela do Mar.

Vandinho apoiou a candidatura de Audifax à prefeitura da Serra, tendo Nilza Cordeiro, presidente municipal do PSDB, como vice na chapa. A partir dessa aliança, a direção partidária concentrou investimentos em candidaturas específicas, privilegiando determinados nomes em detrimento de outros. Essa estratégia aprofundou divisões internas e gerou insatisfação entre militantes e lideranças, evidenciando a falta de unidade dentro do partido.

A fragmentação do PSDB capixaba, aliada às críticas de Yulo sobre a centralização das decisões e a exclusão do debate interno, reflete um problema maior: o distanciamento entre a cúpula partidária e suas bases. Quando um partido deixa de ouvir seus filiados e prioriza interesses pessoais ou de pequenos grupos, ele compromete sua capacidade de representar a sociedade e de se renovar.

Embora a desfiliação de Yulo Castro ainda não tenha sido oficializada, seu anúncio coloca em xeque a atual direção do PSDB no estado. Em um momento em que os partidos políticos enfrentam uma crise de representatividade, episódios como esse servem de alerta: sem mudanças estruturais, outras lideranças podem seguir o mesmo caminho, ampliando o desgaste da legenda.

O PSDB e demais partidos precisam refletir sobre a importância da democracia interna. Transparência e diálogo não podem ser apenas discursos vazios, mas princípios efetivos de gestão partidária. Sem isso, qualquer legenda corre o risco de perder credibilidade e representatividade.

A carta de Yulo Castro não é apenas um anúncio de desfiliação, mas um chamado à renovação da política. Que esse episódio sirva para estimular uma reforma interna real, baseada em participação, ética e compromisso com a sociedade. Afinal, a política só cumpre seu papel quando está a serviço do interesse público – e não de projetos pessoais ou arranjos de poder.